Você já disse ou conhece alguém que disse alguma das frases abaixo?
“Eu queria fazer um jogo, mas não entendo nada de arte.”
“Eu só preciso aprender a parte da arte pra conseguir criar o meu primeiro jogo.”
“Meus jogos não são muito bons porque eu não manjo nada de arte.”
Eu já perdi as contas de quantas vezes eu já li e ouvi frases assim nesses anos a frente do Produção de Jogos.
São pessoas que estão travando seus próprios potenciais por acreditar em algo que não é necessariamente verdade.
Não é a arte de um jogo que o torna divertido ou comercialmente bem-sucedido (apesar de, em alguns casos, ajudar bastante).
No entanto, muita gente adia a criação do seu primeiro jogo por não saber nada de arte gráfica.
Se você quer ser um desenvolvedor de games, mas acha que só conseguirá criar bons jogos se for um bom artista, eu tenho uma coisa pra te falar:
Pare de tapar buracos e alavanque as suas habilidades.
Crie jogos cujas principais habilidades requeridas são aquelas que você já tem ou tem facilidade em obter.
Você pode passar meses aprendendo a desenhar antes de fazer seu primeiro jogo ou você pode começar hoje mesmo focando nas habilidades que já possui.
Quer saber como é possível criar jogos sem saber desenhar nem precisar aprender nada sobre arte gráfica?
Neste artigo eu vou te ensinar três maneiras diferentes de fazer isso!
(Nota: antes que apareçam nos comentários pessoas dizendo: “Que absurdo! A arte de um jogo é extremamente importante”, acho que vale eu fazer aqui um esclarecimento. Este artigo não objetiva afirmar que a arte gráfica de um jogo é descartável. O meu objetivo aqui é destravar pessoas que ficam imobilizadas e deixam de criar jogos por acreditar ser impossível fazer um jogo de qualidade sem arte elaborada. Se você manja de arte gráfica ou quer muito aprender, seja feliz seguindo por esse caminho!)
Preparado? Então vamos começar logo pela parte mais interessante!
1) Tire proveito da Complexidade Máxima Alcançável (CMA) para criar jogos sem saber desenhar
Deixa eu começar falando sobre esse conceito usando um exemplo geral, antes de defini-lo no contexto do desenvolvimento de games.
Vamos pegar, por exemplo, a habilidade de saber somar.
Eu tenho pós-doutorado em Física. Isso quer dizer que eu gastei mais de 10 anos da minha vida fazendo muito, muito cálculo.
No entanto, independentemente da sua relação com a matemática, eu tenho certeza de que eu e você temos a mesma capacidade de realizar soma de números.
Pode ser até que eu consiga somar mais rápido que você, mas raramente eu ou você erraremos uma conta de somar tendo papel e caneta à disposição.
Eu sei como realizar cálculo de integrais, derivadas, e outras coisas que você provavelmente não sabe (a não ser que você tenha formação na área ou tenha estudado muita matemática por conta própria).
No entanto, quando se trata de somar dois números, eu e você temos a mesma capacidade (mesmo eu tendo estudado muito mais matemática que você).
Percebe o quanto isso é interessante? Se algo for simples o bastante, duas pessoas com níveis de habilidade completamente diferentes podem gerar resultados similares.
Este é um conceito que eu chamo de Complexidade Máxima Alcançável.
Eu escrevi sobre ele pela primeira vez no artigo “Porque um gênio da Física não é capaz de somar melhor que você (e porque esse é o segredo para você desenvolver jogos melhores).”
(Se você ainda não leu esse artigo, sugiro que você dê uma paradinha neste texto e leia-o imediatamente!)
Para que você lembre, vou reproduzir abaixo a definição de Complexidade Máxima Alcançável:
Um jogo tem Complexidade Máxima Alcançável (ou CMA) quando as habilidades dos seus desenvolvedores são suficientes para desenvolvê-lo em nível profissional.
Beleza, mas como utilizar este conceito para criar jogos sem saber desenhar?
Vamos nos aprofundar nesta questão agora.
Pense na criação de um personagem de jogo. Se você não sabe desenhar, um artista altamente qualificado vai criar um personagem muito melhor do que você.
Mas e se os personagens e elementos do seu jogo fossem figuras geométricas? Neste caso, você e o maior artista gráfico do mundo estão mais ou menos no mesmo patamar.
Se sua habilidade numa área é pequena, quanto mais simples forem os elementos que você precisa criar, mais perto você estará de uma qualidade profissional.
Ou seja, mais perto você estará de estar desenvolvendo um jogo com Complexidade Máxima Alcançável.
Para ilustrar (sem trocadinho), pegue por exemplo os jogos VVVVVV e Machinarium. O primeiro tem uma arte extremamente simples, enquanto o segundo tem uma arte muito profissional e complexa (não é para iniciantes).
No entanto, ambos foram sucesso comercial, como mostram esses dados da Steamspy:
Viu só?
Não ache que o seu jogo precisa ter uma arte incrível para se destacar. Com certeza uma boa arte pode ser um grande diferencial, mas apenas se você possui esse diferencial!
Existem vários jogos de sucesso (comercial ou de crítica) nos quais o desenvolvedor optou por criar elementos gráficos bem simples, para que o jogo alcançasse nível profissional.
Assim, a minha recomendação para você é a seguinte: em vez de criar jogos cujos elementos estão além de suas habilidades, opte por criar elementos essencialmente simples – aqueles nos quais um profissional não conseguiria fazer um trabalho melhor que você.
Um ótimo exemplo são os jogos do desenvolvedor Terry Cavanagh. Ele possui vários jogos de sucesso, como o VVVVVV e o SuperHexagon, que possuem arte gráfica extremamente simples.
Se ele tivesse optado por fazer jogos que precisam de arte gráfica mais elaborada ou complexa, talvez ele nunca tivesse se tornado um desenvolvedor conhecido.
Felizmente, ele optou por desenvolver jogos com CMA e hoje podemos apreciar as suas obras.
2) Faça parcerias com artistas
Se você quer criar jogos com uma arte gráfica mais evoluída, muito além das suas capacidades atuais, você pode optar por se associar com alguém que possua essas habilidades.
Faça parcerias estratégicas, encontre pessoas com os mesmos objetivos e valores que você mas que possuem habilidades complementares às suas.
Essa é uma forma de trabalhar em jogos que exigem uma arte mais elaborada sem precisar se tornar você mesmo um artista gráfico.
3) Compre a arte gráfica do seu jogo
Se você possui verba ou tem acesso a um investidor para o seu jogo, você pode optar também por comprar o material gráfico necessário para o seu jogo.
Você pode comprar assets pré-prontos em lojas como a Envato Marketplace ou a própria Unity Asset Store.
Você pode ainda contratar artistas para desenvolver os assets gráficos do seu jogo sob encomenda.
Ambas opções envolvem gasto de dinheiro. Mas lembre-se que o seu tempo também vale dinheiro!
Talvez valha mais a pena pagar um profissional do que aprender todo o processo do zero. Deixo para você a reflexão do que vale mais a pena para o seu contexto.
Pronto para o próximo passo?
Existem muitos mitos que impedem as pessoas de começar a desenvolver jogos ou a desenvolver jogos melhores. Não saber desenhar é apenas um desses mitos.
Por algum motivo “engavetou” um projeto porque está achando difícil terminar a parte gráfica do seu jogo ou por algum outro motivo, recomendo que leia este artigo onde eu conto sobre os 3 fatores que impedem as pessoas de finalizar seus games.
Você quer saber como criar jogos com potencial de vender milhares de cópias e que podem ser desenvolvidos por uma pessoa sozinha ou uma pequena equipe?
Eu preparei um vídeo de 30 minutos explicando como eu faço isso no meu estúdio de games. Acesse essa página para conferir: https://pdj.blog.br/aula-criar-jogos.
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Opa,
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