Recentemente eu participei de uma mesa redonda na Campus Party, junto com meus amigos Thiago Adamo e Maurício Alegretti.
Após as apresentações, o Thiago Adamo pediu para todos da mesa falarem sobre o processo de mudança de carreira, já que nós três tínhamos passado por essa experiência.
Eu expus, então, a minha visão sobre mudança de carreira (que é menos conservadora que a da maioria das pessoas; acho que é preciso estar mais disposto a correr riscos).
Enquanto eu respondia no palco, eu lembrei que algumas semanas antes do evento, no fórum da Academia de Produção de Jogos, um aluno iniciou um novo tópico com uma pergunta pertinente para esse assunto, que é:
Existe hora certa de pedir demissão?
Como mudança de carreira é um assunto que me interessa muito (por já ter passado por isso e ter ajudado amigos no processo), eu escrevi uma resposta um pouco mais longa lá no fórum, expondo minha opinião.
Eu sei que essa dúvida também acompanha muitas pessoas que leem o blog, então eu decidi compartilhar aqui neste post qual foi a minha resposta (na íntegra) para este aluno.
Bom, vamos direto pra resposta que eu dei e no final eu volto para fazer alguns comentários adicionais, beleza?
Então, vamos lá:
Tópico muito interessante! Eu passei anos refletindo sobre esse tema e já ajudei alguns amigos no processo de mudar de carreira. Vou colocar algumas observações aqui, que fazem sentido para mim, e quem sabe a gente vá aprofundando a discussão.
Disclaimer: tudo aqui é minha opinião particular e não deve ser encarado como verdade absoluta. Cabe a cada um fazer uma reflexão própria e chegar em suas próprias decisões e conclusões. Cada um tem um contexto particular que só a própria pessoa conhece.
Dito isso, alguns pontos para se considerar…
1) Não existe “hora certa”
Eu acho que “hora certa para _____” é um mito. A vida é muito dinâmica e líquida, quando você se sentir preparado pode ser que a oportunidade já não seja tão boa.
Eu acho importante tentar analisar de forma racional a questão da mudança de carreira. Avalie todos os cenários possíveis e faça uma análise de risco. Uma coisa é garantida: sempre haverá risco, inclusive optando por continuar no emprego. O seu papel é avaliar o risco de cada cenário e tomar uma decisão.
Apenas lembre-se que não existe “hora certa” para se fazer o que indubitavelmente se quer fazer.
Eu gosto da frase “A melhor hora para plantar uma árvore é 20 anos atrás. A segunda melhor hora é agora”.
2) Não escolher também é escolher
Muita gente diz que “adia a decisão” de mudar de carreira. Falar assim dá a impressão que uma decisão não está sendo tomada, que está em suspenso, pausado. Isso não é verdade. Todos os dias você toma uma decisão: a de ficar no emprego OU sair do emprego.
Todo dia você escolhe. Se todo dia você escolhe, responda para si mesmo porque você tem tomado a decisão que tem tomado.
Eu acredito que ter consciência disso ajuda no processo. É importante entender que tudo na vida tem ônus e bônus e não existe inação.
3) Custo de oportunidade
Você acha custoso mudar de carreira? (em termos de dinheiro, energia mental, etc.)
E quanto está custando ficar onde está?
Nota adicional: Esse parágrafo não estava na minha resposta original, mas é importante explicar um pouco melhor essa parte. Um trabalho estressante, com muitas horas de expediente, custa o estresse, tempo e saúde da pessoa. Se ela está trabalhando com algo no qual não aprende nada novo e ainda não gosta do que faz, isso custa muito tempo (entre outras coisas) e depois essa pessoa acabará sofrendo as consequências por estar estagnada na carreira pois não teve tempo de se especializar e estudar o que realmente gosta para conquistar oportunidades melhores.
4) “Qual é o pior cenário possível?”
Essa pra mim é uma das perguntas mais importantes. Eu a uso muito na minha vida. Analise qual é o pior cenário possível de uma mudança de carreira (ex.: consumir 1 ano de economias e ter que buscar emprego de novo”) e pense se esse cenário é realmente tão assustador assim.
Se você quiser se aprofundar nisso, a origem dessa abordagem é do filósofo romano Sêneca.
Ele era conselheiro de Marco Aurélio (o imperador) e outras grandes figuras da história.
Em uma de suas famosas cartas para Lucilius, que era procurador de Sicília durante o reinado do imperador Nero, Sêneca sugere que Lucilius passe alguns dias apenas com o absoluto básico (pão e água, um teto para dormir, roupas que cobrem o corpo) se perguntando continuamente “Essa é a condição que eu tanto temo?”. Ao perceber que os piores cenários não são tão horríveis assim, a sua coragem aumenta vertiginosamente.
(Se alguém quiser se aprofundar nisso, tá aqui um link em inglês)
5) Não superestime o medo
Muita gente diz que não faz algo porque tem medo. Ora, e quem disse que você não deve temer? Uma pessoa corajosa não é aquela que faz algo sem medo. É aquela que faz apesar do medo.
Decida, com argumentos lógicos, qual o caminho você quer seguir e como você vai chegar lá. E se der medo? Se der medo, vá com medo mesmo.
Comentários finais
Esses são alguns pontos que eu acredito serem importantes. Mudar de carreira é uma decisão bem difícil, mas também deve ser considerada uma decisão difícil ficar onde já se está e não se obtém nenhum tipo de prazer.
E só para ficar claro, já que esse é um tema delicado: não estou dizendo para largar tudo e encarar o desafio. Se quiser mesmo mudar é preciso se preparar para o desafio, definir uma data e agir.
E aí, esses 5 itens que eu expliquei fazem sentido para você?
Como eu disse na resposta acima, cada um sabe do seu próprio contexto. Apenas você pode saber o que é melhor para você. O meu intuito aqui é apenas fazer você refletir.
E se você tem o sonho de trabalhar com jogos, mas ainda não sabe por onde começar ou não sabe como dar os próximos passos, eu preparei um material que pode te ajudar bastante.
Se você também quer começar a desenvolver jogos, eu sempre recomendo começar dos mais simples para ir ganhando experiência.
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Opa,
qual foi a maior sacada que você teve? Conte nos comentários.